Compreendi finalmente o motivo que temos que dizer "a EJA", porque é sobre a "Educação de Jovens e Adultos", então após essa interdisciplina verificamos e não podemos mais nos equivocar quando vamos falar sobre essa modalidade de ensino.
Fazer a atividade final da
interdisciplina da EJA foi muito instigante, pois já havia realizado uma
atividade no VI semestre com uma turma, mas fazer uma entrevista conhecendo um
pouco da história de cada aluno foi muito interessante, pois são pessoas que
têm idades distintas, mas ao mesmo tempo algumas histórias se parecem. Escutar
das mulheres como era o autoritarismo principalmente dos pais (homens) de não
deixar as filhas estudar, e priorizar aos meninos o poder ir e saber ainda
existe atualmente e por mentes bem jovens, como foi o relato de uma aluna onde
voltou aos bancos escolares para acompanhar sua filha, e o marido não deixou
essa frequentar mais a escola. Fiquei muito chateada e a aluna-mãe não aguentou
e cai em choro no seu relato, e ao mesmo tempo disse que seu marido deu força
para ela continuar estudando, pois antes não conseguia porque tinha os filhos
pequenos.
Durante essa atividade de campo
consegui visualizar que ainda existem muitas pessoas sem a escolarização
completa, e do ano passado para esse o número de alunos aumentou na escola, e
fiquei bem contente. A direção da escola se preocupa muito com seus alunos da
EJA, e está sempre os incentivando para a conquista do seu objetivo, se o aluno
tem três faltas, então a professora avisa a direção e a escola liga para eles
para saber o motivo que estão faltando às aulas, e solicita para voltarem.
Quem leciona para essa modalidade de ensino
deve ter em mente que esses alunos não são mais crianças, e tem uma
especificidade peculiar, e devem ser tratados como adultos que são. [...] uma faixa etária diferenciada, com
características próprias. Primeiramente jovens e adultos não podem ser tratados
como crianças. São pessoas que não tiveram infância, ou tiveram uma infância
frustrada, têm vergonha de si mesmos, possui complexo de inferioridade diante
da sociedade que os oprime e os discrimina. FREIRE, 1987 (FRIEDRICH. et al., 2013, p.19). Muitos deles voltam aos
bancos escolares somente para buscar a certificação, então eles têm pressa em
aprender, e quando chegamos com alguma proposta diferenciada, logo eles
acreditam que o professor não sabe lecionar, ou seja, que eles não vão
aprender, porque no pensamento deles aquilo é brincadeira, e não aprender.
Percebo essa forma deles pensar, pois há muito tempo estiveram dentro de uma
escola, e naquele tempo o ensinar/aprender para eles era a cópia do quadro,
reproduzir o professor ensinava, e simplesmente prova, onde era o único instrumento
de avaliação. Com isso, percebi que eles pararam no tempo, mas os professores
de hoje tem uma didática diferenciada para lecionar. Como o professor Evandro
colocou temos muitos teóricos com inúmeros livros com pesquisas de como as
crianças aprendem, mas ainda não sabemos como o aluno jovem/adulto da EJA
aprende. Ainda nos fez pensar como nós aprendemos, e essa reflexão sei que vai
ficar muito tempo na minha memória, pois aprender alguns conceitos é bem difícil
apesar de toda a minha caminhada dentro da educação.
Na apresentação dos grupos quase por unanimidade
sobre a atividade que realizamos verifiquei o que senti pessoalmente, que os alunos
da EJA são muito afetuosos, e inicialmente sentem algum receio em falar com alguém
que não seja a professora, ou alguém que seja da escola. De acordo com GIROUX:
O desenvolvimento de uma política
cultural da alfabetização e da pedagogia torna-se um de partida importante para
possibilitar que aqueles que têm sido silenciados ou marginalizados pelas
escolas, pelos meios de comunicação de massa, pela indústria cultural e pela
cultura televisiva exijam a autoria de suas próprias vidas. Uma teoria
emancipadora da alfabetização indica a necessidade de desenvolver um discurso
alternativo e uma leitura crítica de como a ideologia, a cultura e o poder
atuam no interior das sociedades capitalistas tardias no sentido de limitar, desorganizar
e marginalizar as experiências quotidianas mais críticas e radicais e as
percepções de senso comum dos indivíduos. (GIROUX, s/ano, s/p.)
Refletindo sobre o que observei, sobre
as entrevistas/conversas, penso o quanto é importante um educador que trabalhe
com esse alunado esteja ali não somente pelo seu dinheiro, pois sabemos que
nossa cultura é capitalista, e precisamos muito de um salário para poder viver,
mas lecionar e aprender com o aluno da EJA é tão importante que temos que ter
muito amor, gentileza e delicadeza para poder tratar com eles. Abrir as aulas
para o diálogo, saber escutar suas histórias e valorizar tudo que eles trazem
em sua sabedoria. São pessoas que ao longo da vida sofreram muito, e alguns são
tão humildes que muitas vezes custam a se enturmar e sentir o direito de estar
ali, se identificar como sujeito aprendente, se empoderar do lugar que ocupa
dentro da sociedade, se permitir para poder construir seu aprendizado.
Agora entendo o motivo que o grande
mestre Paulo Freire é tão exaltado por tantos anos aqui no Brasil e no
exterior, pois ele reformulou a didática para melhor o entendimento dos alunos
jovens/adultos que foram de alguma forma excluída da escola, percebeu como
essas pessoas foram massacradas ao longo de suas vidas, e fez uma pedagogia
diferenciada onde até hoje quem busca se qualificar para lecionar dentro da
modalidade EJA de ensino estuda suas teorias, seus livros, e aos poucos vai
incorporando uma nova maneira de ver o mundo e como podemos ser mais úteis,
trabalhando na escola os saberes que eles trazem os seus conhecimentos prévios,
como alguns autores dizem. De acordo com FREIRE:
Por isso mesmo pensar certo
coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar
os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a
ela - saberes socialmente construídos na prática comunitária. [...] aproveitar a experiência que tem os alunos de
viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por
exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem estar
das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Porque
não há lixões no coração dos bairros rios e mesmo puramente remediados dos
centros urbanos? Esta
pergunta é considerada
em si demagógica e
reveladora da má vontade de quem a faz. É pergunta de subversivo, dizem certos
defensores da democracia. (FREIRE, 1996 p. 16)
Finalizando mesmo tendo muito que
falar/escrever sobre os sentimentos aflorados fazendo as observações e as
entrevistas, senti forte inclinação para atuar como uma professora da EJA, me
aperfeiçoar e entrar nesse mundo aprendente e ensinante da EJA.
Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia.
p. 16. Ano da Publicação Original: 1996. Ano da Digitalização: 2002
FRIEDRICH, Márcia. et al.
“Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de
governo a propostas pedagógicas esvaziadas”. Ensaio: aval. pol. públ.
Educ., Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 389-410, abr./jun. 2010.
GIROUX, Henry A. Alfabetização e a
pedagogia do empowerment político . Universidade de Miami. Oxford, Ohio.
S/ano.
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