quinta-feira, 21 de junho de 2018

Um novo olhar sobre a EJA



Compreendi finalmente o motivo que temos que dizer "a EJA", porque é sobre a "Educação de Jovens e Adultos", então após essa interdisciplina verificamos e não podemos mais nos equivocar quando vamos falar sobre essa modalidade de ensino. 
Fazer a atividade final da interdisciplina da EJA foi muito instigante, pois já havia realizado uma atividade no VI semestre com uma turma, mas fazer uma entrevista conhecendo um pouco da história de cada aluno foi muito interessante, pois são pessoas que têm idades distintas, mas ao mesmo tempo algumas histórias se parecem. Escutar das mulheres como era o autoritarismo principalmente dos pais (homens) de não deixar as filhas estudar, e priorizar aos meninos o poder ir e saber ainda existe atualmente e por mentes bem jovens, como foi o relato de uma aluna onde voltou aos bancos escolares para acompanhar sua filha, e o marido não deixou essa frequentar mais a escola. Fiquei muito chateada e a aluna-mãe não aguentou e cai em choro no seu relato, e ao mesmo tempo disse que seu marido deu força para ela continuar estudando, pois antes não conseguia porque tinha os filhos pequenos.
Durante essa atividade de campo consegui visualizar que ainda existem muitas pessoas sem a escolarização completa, e do ano passado para esse o número de alunos aumentou na escola, e fiquei bem contente. A direção da escola se preocupa muito com seus alunos da EJA, e está sempre os incentivando para a conquista do seu objetivo, se o aluno tem três faltas, então a professora avisa a direção e a escola liga para eles para saber o motivo que estão faltando às aulas, e solicita para voltarem.  
 Quem leciona para essa modalidade de ensino deve ter em mente que esses alunos não são mais crianças, e tem uma especificidade peculiar, e devem ser tratados como adultos que são. [...] uma faixa etária diferenciada, com características próprias. Primeiramente jovens e adultos não podem ser tratados como crianças. São pessoas que não tiveram infância, ou tiveram uma infância frustrada, têm vergonha de si mesmos, possui complexo de inferioridade diante da sociedade que os oprime e os discrimina. FREIRE, 1987 (FRIEDRICH. et al., 2013, p.19). Muitos deles voltam aos bancos escolares somente para buscar a certificação, então eles têm pressa em aprender, e quando chegamos com alguma proposta diferenciada, logo eles acreditam que o professor não sabe lecionar, ou seja, que eles não vão aprender, porque no pensamento deles aquilo é brincadeira, e não aprender. Percebo essa forma deles pensar, pois há muito tempo estiveram dentro de uma escola, e naquele tempo o ensinar/aprender para eles era a cópia do quadro, reproduzir o professor ensinava, e simplesmente prova, onde era o único instrumento de avaliação. Com isso, percebi que eles pararam no tempo, mas os professores de hoje tem uma didática diferenciada para lecionar. Como o professor Evandro colocou temos muitos teóricos com inúmeros livros com pesquisas de como as crianças aprendem, mas ainda não sabemos como o aluno jovem/adulto da EJA aprende. Ainda nos fez pensar como nós aprendemos, e essa reflexão sei que vai ficar muito tempo na minha memória, pois aprender alguns conceitos é bem difícil apesar de toda a minha caminhada dentro da educação.
Na apresentação dos grupos quase por unanimidade sobre a atividade que realizamos verifiquei o que senti pessoalmente, que os alunos da EJA são muito afetuosos, e inicialmente sentem algum receio em falar com alguém que não seja a professora, ou alguém que seja da escola. De acordo com GIROUX:
O desenvolvimento de uma política cultural da alfabetização e da pedagogia torna-se um de partida importante para possibilitar que aqueles que têm sido silenciados ou marginalizados pelas escolas, pelos meios de comunicação de massa, pela indústria cultural e pela cultura televisiva exijam a autoria de suas próprias vidas. Uma teoria emancipadora da alfabetização indica a necessidade de desenvolver um discurso alternativo e uma leitura crítica de como a ideologia, a cultura e o poder atuam no interior das sociedades capitalistas tardias no sentido de limitar, desorganizar e marginalizar as experiências quotidianas mais críticas e radicais e as percepções de senso comum dos indivíduos. (GIROUX, s/ano, s/p.)

Refletindo sobre o que observei, sobre as entrevistas/conversas, penso o quanto é importante um educador que trabalhe com esse alunado esteja ali não somente pelo seu dinheiro, pois sabemos que nossa cultura é capitalista, e precisamos muito de um salário para poder viver, mas lecionar e aprender com o aluno da EJA é tão importante que temos que ter muito amor, gentileza e delicadeza para poder tratar com eles. Abrir as aulas para o diálogo, saber escutar suas histórias e valorizar tudo que eles trazem em sua sabedoria. São pessoas que ao longo da vida sofreram muito, e alguns são tão humildes que muitas vezes custam a se enturmar e sentir o direito de estar ali, se identificar como sujeito aprendente, se empoderar do lugar que ocupa dentro da sociedade, se permitir para poder construir seu aprendizado.
Agora entendo o motivo que o grande mestre Paulo Freire é tão exaltado por tantos anos aqui no Brasil e no exterior, pois ele reformulou a didática para melhor o entendimento dos alunos jovens/adultos que foram de alguma forma excluída da escola, percebeu como essas pessoas foram massacradas ao longo de suas vidas, e fez uma pedagogia diferenciada onde até hoje quem busca se qualificar para lecionar dentro da modalidade EJA de ensino estuda suas teorias, seus livros, e aos poucos vai incorporando uma nova maneira de ver o mundo e como podemos ser mais úteis, trabalhando na escola os saberes que eles trazem os seus conhecimentos prévios, como alguns autores dizem. De acordo com FREIRE:
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela - saberes socialmente construídos na prática comunitária. [...] aproveitar a experiência que tem os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Porque não há lixões no coração dos bairros rios e mesmo puramente remediados  dos  centros  urbanos?  Esta  pergunta  é  considerada  em  si  demagógica e reveladora da má vontade de quem a faz. É pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia. (FREIRE, 1996 p. 16)

Finalizando mesmo tendo muito que falar/escrever sobre os sentimentos aflorados fazendo as observações e as entrevistas, senti forte inclinação para atuar como uma professora da EJA, me aperfeiçoar e entrar nesse mundo aprendente e ensinante da EJA.

Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. p. 16. Ano da Publicação Original: 1996. Ano da Digitalização: 2002
FRIEDRICH, Márcia. et al. “Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de governo a propostas pedagógicas esvaziadas”. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 389-410, abr./jun. 2010.
GIROUX, Henry A. Alfabetização e a pedagogia do empowerment político . Universidade de Miami. Oxford, Ohio. S/ano.

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