Nessa
postagem voltei em 2014 quando lecionei pela primeira vez como regente, para
mim foi bem difícil vivenciar numa comunidade escolar totalmente carente
financeiramente e afetivamente. Meus alunos vinham 80% de famílias
desestruturadas, sendo criados a Deus dará popularmente falando. A escola era
um local onde tinham um pouco de segurança, amor, alimento e tudo que uma
criança precisa aprender em casa eles aprendiam com os professores. A escola
como estrutura física era muito debilitada como a maior parte das escolas da
rede pública, mas mesmo assim era bem melhor que seus lares.
Foi nessa
escola que nasceu minha vontade de compreender como a criança aprende, e que
resolvi sair da Licenciatura em Ciências da Natureza, com habilitação em
Biologia e Química, para fazer o PEAD.
A gestão
escolar, os professores, e os funcionários não acreditavam nos alunos que ali
frequentavam, então escutei em uma das reuniões pedagógicas que com aqueles
alunos não precisávamos nos esmerar nos planejamentos e nos ensinamentos, pois
poucos chegaram no final da educação básica. E os demais seguiram as profissões
dos seus pais, que eram papeleiros, profissionais do sexo, e até mesmo
traficantes. Palavras absurdamente intensas, que jamais pensei escutar sair da
boca de quem estava ali para acreditar que a educação um dia fará a diferença.
Além de
observar isso atentamente, observei que muitos de nós professores vemos somente
o feio, estragado, ruim, triste, e não conseguimos ver nos olhos daquelas
crianças que não pediram para nascerem naquela situação, alunos com olhos
sedentos de amor, afetos, fome, de aprender, e de ver que alguém consiga
acreditar neles, pois em casa poucos possuem adultos para se espelharem e
acreditar que estudando podem sair da situação em que se encontram.
Acho que
uma atividade legal de se fazer com os alunos era mostrar o histórico da escola,
como ela era no início, e os alunos que lá se formaram, e que os alunos que
foram importante para a sociedade Porto alegrense, assim instigando os alunos
de hoje querer fazer diferente, estudar, aprender e conseguir ter um índice
positivo de aprendizagem. Como foi importante essa atividade, mesmo realizando
ela depois que não estava mais na escola trabalhando, com ela pude observar o
quanto um professor pode errar com seus alunos tendo pensamentos
preconceituosos e discriminatórios.
Um dia a
diretora me chamou atenção e me questionou: “Andreia como faz para teus alunos vir
numa tarde chuvosa, e fria, tua turma está sempre cheia? Respondi: Faltam três
alunos”. Ela sorriu me abraçou e seguiu para direção, e assim foi todo o ano
letivo. Naquele momento que ela disse, não entendi o seu questionamento, hoje lembrando,
de tudo novamente, veio essa memória, amei aquela turma de quarto ano, alunos
complicados, brigões, revoltados, digamos que um tanto mal educados, pois adoravam
dizer palavrões na escola, mesmo eles sendo assim aprendi a amar cada um deles
e entender tudo que diziam, e na maneira de olhar. Nesse ano letivo nunca faltei, e nunca os
tratei diferente, abraçava a todos, e os que vinham me cumprimentar fazia
igualmente. Nunca passei a mão por cima de nenhum deles, sempre fiz com que se
sentissem iguais e que todos tinham chance de aprender. Os respeitava em suas
particularidades e para conversar com eles e chamar atenção chamava e
conversava no corredor, sem os deixar envergonhados sem expor diante da classe,
e assim eles também faziam comigo me chamavam para conversar sobre qualquer
assunto também no corredor. Cobrava tema, atividades que era para realizar em
casa, mas com tempo fui percebendo que muitos deles não tinham o suporte
familiar para ajudar eles em casa, daí dava uma folhinha ou um tema mais fácil.
Assim fomos
construindo um laço de cumplicidade a turma e eu. Nesse ano nasceu a professora
Andréia, e mesmo antes do PEAD, sempre revia meu dia numa reflexão de como
melhorar, ou continuar o que deu certo.
Sinto
saudades dessa turma, e gostaria imensamente de revê-los, hoje são adolescentes
muitos indo para o nono ano, às vezes falo com a secretária da escola a única
funcionária que permanece na escola, ela diz que estão bem, alguns ótimos,
outros saíram, e uns repetindo e recuperando.
Essa
escola faltava um pouco de bom olhar dos professores, funcionários e gestores,
formular projetos e tentar melhorar a escola. Fazer a comunidade se sentir
parte da escola, acho que faltou isso para deixá-la melhor. Ser menos
impessoal, e deixar o preconceito e a discriminação de lado e pensar nos
alunos.
Por isso,
em novas escolas que entro para fazer qualquer atividade peço para dar uma lida
no PPP da escola, e depois dessa atividade sempre procuro olhar a escola nos
detalhes, procuro escutar os alunos e ler as entre linhas isso que vai me
mostrar a verdadeira identidade escolar.
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