sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Recordando minhas experiências na infância



Dia 02 de setembro foi a primeira aula da interdisciplina “Infâncias de 0 a 10 anos” a professora Fabiana, começou a aula fazendo vários questionamentos sobre infância ou infâncias? Teríamos que nos apresentar e depois responder sobre alguma experiência sobre infância. Infelizmente não consegui participar, mas vou deixar registrado.
Meu nome é Andreia, quando pensei sobre experiência com infância, lembro que desde pequena gostava de ter crianças por perto, e sempre que podia arrastava meia dúzia para dentro do pátio da minha casa. Quando ia no emprego da minha avó ajudava ela para depois brincar com os filhos da patroa dela e ajudava eles com as lições da escola. Minha infância foi muito boa, foram meus avós maternos que me criaram como se fosse filha deles, brinquei muito, minha imaginação voava, fiz muitas artes também. Subia em árvores, comia frutas direto do pé estando ou não maduras, adorava descer a lomba com carrinho de rolimã, sempre que minha avó não estive em casa, pois brincar com meninos nem pensar, tinha que ser tudo separado. Tomei água de poço e o mais engraçado que no verão era bem gelada parecia que saia direto da geladeira, adorava quando meu avô chegava de viagem, sempre trazia alguma coisa diferente para nós, mas ficava profundamente triste quando tinha festas de fim de ano e ele estava muito longe e não podia estar conosco. A luz elétrica lembro que demorou para ter na vila onde morava, acho que tinha uns nove anos quando passaram com os postes e começaram a instalar nas casas, então televisão era coisa de gente rica, mas com economias minha avó comprou uma que era preto e branco e via todos os dias o Sítio do Pica Pau Amarelo quando chegava da escola, mas era só o que podia olhar, pois era criança, mesmo assim não gostava de ver outros programas, a não ser reportagem de bichos,
Tinha muita vontade de ter muitos irmãos, então sempre que podia levava todas as crianças da rua brincar comigo, e logo minha mãe casou de novo e ganhou minha maninha,  que eu pedia para minha avó ficar com ela lá em casa. Fiquei mais feliz quando a tia deixou meu primo conosco para poder trabalhar, então meus sonhos começavam a se realizar, a casa estava ficando cheia de crianças. De todas as crianças eu era a mais velha, e filha mais velha, neta mais velha, por isso comandava as brincadeiras e sempre me senti responsável pelos menores, e adorava quando a casa estava cheia de crianças. Fazia casa de árvore, casas de resto de madeira e lona, casas de tijolos onde separava tudo direitinho, com móveis de tijolos também, usava tudo da obra da casa que estavam construindo, fazia balanços, brinquedos de todo que tipo, até um carrinho para descer a lomba, mas quem desceu foi meu primo e se quebrou todo, eu tomei uma surra para deixar de inventar brincadeiras que poderiam machucar os pequenos, brincar de fazer comida em latas de óleo e de condimentos, usava vela para fonte de energia, um dia fiz até um bolo e o pior de tudo é que a gente comia tudo de verdade. Claro o arroz demorava muito tempo para cozinhar e as verduras pegava da horta da minha avó, sucos de laranja ou limão já que tínhamos plantações de todo tipo e sempre achava um mesmo verde para nossas brincadeiras. Em épocas de plantio, ajudava a plantar de tudo, nunca tivemos que comprar legumes e verduras, tudo era plantado no quintal. Não tinha bonecas então pegava qualquer coisa para fazer de conta que era uma filha, uma boneca,  quilos de feijão e arroz e as vezes vestia com as roupas do meu primo que era roupas de bebê. Sem falar nos milhos que tinha aquele cabelinho amarelo onde tirava do pé muito verde só para brincar, depois comia ele verde mesmo era bem docinho, mas quando minha avó descobria era uma briga.

 Um diferencial meu das outras crianças é que sempre minha avó me criou com muita autonomia e tinha uma certa responsabilidade, com menos de sete anos ia até a farmácia buscar medicamentos, compras no mercado, buscar taxi quando ela precisava, nem sabia ler e escrever já era uma mandona e fazia tudo muito rápido, tudo para ajudar aquela pessoa maravilhosa que salvou minha vida. Lembro de uma vez que tive que ir levar o dinheiro e os documentos do meu avô no canteiro de obras que naquele dia ele iria viajar para o Rio de Janeiro. Para surpresa dele estava sozinha e ele ficou admirado por eu saber sair de Viamão e ir até centro de Porto Alegre pegando ônibus sozinha, essa foi a primeira vez, em um outro dia me perdi da minha avó com meu primo, e fui atrás dela em todos os lugares possíveis que ela poderia estar, então me achando sozinha com meu primo que na época só tinha três anos e eu sete, fui ao fim da linha do ônibus, expliquei para o fiscal a situação e ele deixou nós ir para casa, aquele dia quase matei a coitada da vó, ela pensava que uns ciganos tinham nos raptado. Desci e como minha mãe tinha a casa dela perto da casa da minha avó fomos para lá, e disse o que havia acontecido, ela riu muito e nos deu almoço. Minha vó chegou e nem sabia o que dizer para ela, pois em seu entendimento a gente teria desaparecido da pracinha onde ela nos deixou. Tadinha hoje que sou mãe sei o sofrimento que ela passou e a agonia de ter pensado que tinha nos perdido Sozinha em termos, como fui criada com um pensamento que temos sempre a companhia do anjo da guarda e que Deus está sempre junto de nós, não me sentia sozinha, sentia que nada podia acontecer comigo, claro nunca falava com estranhos e muito menos aceitava doces ou algo do tipo.

Não lembro se naquele tempo já existia tantas maldades, ou não eram anunciadas para todos, mas me sentia livre, não tinha medo de sair no meio da noite se precisasse, todas as pessoas da vila me conheciam e também conhecia elas. As portas das casas não eram fechadas, ninguém invadia os pátios, batiam e pediam se precisassem de alguma coisa, todos se respeitavam e se ajudavam.

Hoje não consigo ficar em casa sem passar a chave na fechadura, mesmo estando com os filhos ou marido dentro de casa, me chamam de neurótica. Não criei meus filhos como fui criada, sempre levei e busquei eles na escola até o sexto ano, e nunca deixei eles pegar um ônibus sozinhos até os treze anos, onde iam ate a casa da avó deles, minha mãe. Trabalhava e ligava muitas vezes por dia para ver se estavam bem. Eles já nasceram com uma televisão na casa colorida, e percebia que até para dormir o som da TV era bom e eles dormiam mais tempo com aquele barulho.

Hoje está tudo mudado,  as pessoas não se conhecem e muito menos se cumprimentam, ninguém ajuda seu próximo sem querer algo em troca. E assim vamos criando filhos que estão sempre na ofensiva, com medo do outro, e com medo de viver. Criamos hoje crianças dependentes, e futuros adultos dependentes, por causa de tanta violência que nos circunda. Se hoje perguntassem se queria ter outro filho, responderia que não sou louca de colocar outro filho nesse mundo tão cruel como hoje se encontra, acho que esse sentimento é um misto de insegurança e medo do futuro, espero que isso mude, e acabe termine toda essas violências que existem, que as pessoas voltem a acreditar numa sociedade que tenha uma política igualitária e com direitos para todos cidadãos, que a paz volte a reinar, e que as pessoas voltem a compartilhar momentos que foram esquecidos em um passado não muito distante da atualidade.
 



 

Um comentário:

  1. Olá Andreia,
    Importante os fatos relatados em seu Portfólio de Aprendizagem e de como você fez as suas conexões do passado com o presente e de como eles foram marcantes em sua trajetória tanto na vida pessoal como profissional.Parabéns!

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